A exportação do pinhão desponta como uma das maiores oportunidades de valorização da biodiversidade brasileira no mercado internacional. Tradicionalmente consumido no Sul do Brasil, o pinhão — semente da Araucaria angustifolia, espécie nativa da Mata Atlântica — começa a despertar o interesse de importadores por suas qualidades nutricionais, seu apelo sustentável e sua ligação com a cultura e a história do povo sulista.
Este artigo explora as características da planta, o destaque do pinhão em eventos internacionais, seu potencial econômico e gastronômico, os avanços da Embrapa na rastreabilidade do produto, e como a exportação pode transformar positivamente comunidades locais e o agronegócio brasileiro.
Araucária: uma árvore centenária, símbolo do Sul do Brasil
A Araucaria angustifolia, também conhecida como pinheiro-do-paraná, é uma árvore de grande porte que pode ultrapassar 30 metros de altura e viver mais de 200 anos. Além de sua imponência e importância ecológica — servindo de abrigo e alimento para diversas espécies —, ela produz um dos alimentos mais tradicionais do Sul: o pinhão.
Leia Mais: Já tivemos a oportunidade de escrever um artigo sobre essa belíssima espécie. Nele você pode ver mais detalhamentos sobre a Araucária: a árvore símbolo do Sul do Brasil.

A maturação do pinhão ocorre entre abril e julho, durante o outono e o inverno brasileiro. A coleta, feita majoritariamente por agricultores familiares e comunidades tradicionais, é realizada manualmente, respeitando o tempo natural de queda dos pinhões maduros.
O pinhão é uma semente rica em amido resistente, fibras, cálcio, fósforo, ferro e antioxidantes naturais. Seu consumo é recomendado para dietas balanceadas e, por não conter glúten, é adequado para celíacos e pessoas com restrições alimentares.
Pinhão brasileiro em destaque internacional
Nos últimos anos, o pinhão ultrapassou os limites do consumo regional e passou a figurar como ingrediente exótico e funcional em feiras internacionais de alimentos, como a Anuga (Alemanha), a SIAL (França) e o Summer Fancy Food Show (Estados Unidos).
Chefs brasileiros e cooperativas agroextrativistas vêm levando o pinhão a esses eventos como um símbolo da biodiversidade brasileira e um exemplo de alimento sustentável e gourmet. Além do pinhão in natura, o mercado internacional passou a conhecer novos produtos derivados:
- Farinha de pinhão: alternativa sem glúten para panificação.
- Pinhão cozido e embalado a vácuo: pronto para consumo.
- Purê e creme de pinhão: para culinária contemporânea.
- Snacks e biscoitos funcionais: focados no público fitness e saudável.

Essas versões agregam valor e aumentam a viabilidade da exportação do pinhão, especialmente para países da Europa e Ásia, onde cresce a demanda por alimentos diferenciados, com rastreabilidade e impacto ambiental reduzido.
E temos ótimas notícias já para 2025, nos próximos dias sairá o primeiro contêiner com a produção desse ano para a China. No total o envio inclui oito toneladas de falha, para artesanato, e oito toneladas de pinhão, voltado à merenda escolar. O Jornal Razão, detalhou mais informações sobre essa exportação em sua matéria: Santa Catarina vai exportar pinhão para escolas na China.
Valorização econômica e sociocultural do pinhão
A exportação do pinhão representa mais que um ganho econômico: é uma oportunidade de gerar renda justa para extrativistas, indígenas e agricultores familiares, enquanto promove a preservação das florestas de araucária, hoje ameaçadas pela expansão agrícola e pelo desmatamento.
Segundo estimativas da Embrapa, o Brasil tem potencial para multiplicar por três a receita gerada com o pinhão, especialmente se investir em:
- Certificações de origem e sustentabilidade (como selo orgânico e indicação geográfica).
- Boas práticas de coleta e manejo florestal.
- Capacitação de produtores e acesso a linhas de crédito específicas.
- Logística adaptada à exportação (armazenamento, transporte refrigerado e embalagem).
Outro ponto de valorização está no crescente reconhecimento do pinhão como superalimento, ao lado da castanha-do-pará, açaí e baru — produtos nativos que têm ganhado protagonismo no mercado externo por suas propriedades nutricionais e pelo modo de produção tradicional.
A rastreabilidade da Embrapa: segurança e transparência
Um dos maiores desafios para inserir produtos florestais no mercado internacional é garantir a rastreabilidade e a legalidade de toda a cadeia produtiva. Para isso, a Embrapa Florestas desenvolveu uma tecnologia pioneira que permite identificar a origem de cada lote de pinhão.
Por meio de etiquetas com QR code e registros digitalizados, o sistema de rastreabilidade informa:
- Região de origem e altitude da coleta.
- Produtor ou comunidade responsável.
- Data de colheita e processamento.
- Certificações e métodos de produção utilizados.
Essa rastreabilidade fortalece a confiança do mercado internacional e atende às exigências de países com legislações rigorosas, como os da União Europeia e do Canadá. Além disso, ela pode viabilizar, futuramente, a Indicação Geográfica (IG) para o pinhão do Sul do Brasil, agregando ainda mais valor ao produto.
A iniciativa também estimula a educação ambiental e a conservação da araucária, pois incentiva práticas sustentáveis, evita a coleta ilegal e combate o desmatamento nas áreas de floresta nativa.
Conclusão: um futuro sustentável e promissor para a exportação do pinhão

A exportação do pinhão representa uma oportunidade concreta de unir preservação ambiental, geração de renda e inovação alimentar. Sua origem florestal, somada ao modo de produção tradicional e ao potencial nutricional, faz do pinhão um candidato ideal para conquistar o mercado global.
O futuro dessa cadeia produtiva depende de:
- Incentivos governamentais e políticas públicas de fomento à socio biodiversidade.
- Parcerias entre cooperativas, startups alimentares e exportadores.
- Educação do consumidor internacional sobre o valor cultural e ecológico do produto.
- Expansão do uso gastronômico do pinhão como diferencial nos mercados gourmet e de saúde.
Ao levar o pinhão das florestas de araucária para os mercados internacionais, o Brasil exporta muito mais do que um alimento: exporta história, cultura e respeito à natureza. Que essa pequena semente continue a semear grandes oportunidades — e que o mundo descubra, cada vez mais, os sabores e os valores do nosso território.
Não sabia, que interessante. Pinhão no inverno é tudo de bom.
Que demais ver o pinhão ganhando o mundo! Um alimento tão ligado às nossas tradições agora sendo reconhecido lá fora. Já quero ver biscoitinho de pinhão nas prateleiras da Europa!
Adorei saber, amo comer pinhão